sábado, 5 de março de 2011

O silêncio e a solidão

Saindo da Sinagoga, foram para casa de Simão e André, com Tiago e João. A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo lhe falaram dela. Aproximando-se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. À noitinha, depois de sol-pôr, trouxeram-lhe todos os enfermos possessos, e a cidade inteira estava reunida junto à porta. Curou muitos enfermos atormentados por toda a espécie de males e expulsou muitos demónios; mas não deixava falar os demónios, porque sabiam que Ele era. De madrugada, ainda escuro, levantou-se e saiu; foi para um lugar solitário e ali pôs em oração. Simão e os que estavam com Ele seguiram-no. E, tendo-o encontrado, disseram-lhe:«todos te procuram.» Mas Ele respondeu-lhes: «vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim.» E foi por toda a Galileia, pregando nas Sinagogas deles e expulsando os demónios.(Mc 1, 32-39)

Este texto mostra-nos como a vida de Jesus era muito dinâmica e activa, sempre disponível para ajudar quem vinha ter com Ele. Porém, no meio de tanta actividade sabe-nos bem escutar a frase de madrugada, ainda escuro, levantou-se e saiu; foi para um lugar solitário e ali se pôs em oração.

É uma palavra repousante. Depois de muitas tarefas e de confraternização, Jesus tem um tempo para a solidão e para o silêncio.

No lugar deserto, Ele encontra a coragem para fazer a vontade de Deus, não a sua; para realizar as obras de Deus e não as suas. É no lugar deserto onde Jesus inicia a sua intimidade com Deus.

De algum modo sabemos que sem esse deserto, estamos perdidos; sem silêncio as palavras perdem sentido e os nossos gestos vazios.

Todos nós, em algum momento da vida, sonhamos realizar algo importante, sermos valorizados por quem vive à nossa volta, tentamos criar uma boa imagem, mas no fundo, sentimos um a grande insegurança. Vamo-nos tornando aquilo que achamos que os outros querem que sejamos. E assim, quando as nossas acções são expressão mais de medo que de liberdade interior, tornamo-nos facilmente prisioneiros das ilusões que nós mesmos criámos.

Jesus quer que sejamos pessoas com liberdade interior. É no deserto que essa liberdade se fortalece. Na solidão descobrimos que ser é mais importante que ter e que valemos mais que o resultado de nossos esforços, que procuramos fazer a vontade de Deus, dizer as palavras de Dele, amar como Ele ama. Deus-Pai é a nossa referência e não o mundo.

Um carpinteiro e seu aprendiz caminhavam juntos por uma grande floresta. Quando encontraram um belo carvalho, alto, imenso, nodoso e velho, o carpinteiro perguntou ao aprendiz:

- sabe por que é que esta árvore é tão alta, tão imensa, tão nodosa, tão velha e tão velha?

O aprendiz olhou para o patrão e respondeu:

- não por quê?

- Bem, disse o carpinteiro, porque ela é inútil. Se fosse útil, teria sido cortada há muito tempo e transformada em mesas e cadeiras, mas, por ser inútil, cresceu tão e tão bela que podemos nos sentar à sua sombra e descansar.

Como comunidade de fé, lembramos constantemente uns aos outros que formamos uma fraternidade dos fracos e de loucos aos olhos do mundo, mas compreensível para Aquele que nos fala nos lugares de desertos da nossa existência e nos diz: “tu és o meu filho muito amado”

O texto depois de dizer que Jesus orava na solidão, diz também, depois de seus discípulos o terem encontrado:« vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim

As palavras de Jesus que anunciava eram as de seu Pai. Mais tarde, sabemos que essas palavras o conduziram à morte. Porém, o Pai ressuscitou-o e deu-lhe a verdadeira vida. Talvez tivesse sido mais fácil para Jesus seguir corrente, agradar aos seus contemporâneos e evitar a humilhação e a tortura, Ele era livre de escolher e preferiu dar a vida, que vender a sua liberdade pela aceitação da multidão.

O mais importante não é o que as pessoas dizem de mim, dos meus fracassos... mas a vida que brota do diálogo com o Pai, que me aceita, me ama e me confia o seu reino.

Este texto convida-nos a viver a vida em plenitude, sem esquecer de nos levantarmos pela madrugada e nos dirigirmos para um lugar deserto para estar sós com Deus.

Afmend OFM

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Cf. NOUWEN, Henri J. M; o fruto da solidão, Edições Loyola, São Paulo. Brasil,2000

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